terça-feira, 4 de junho de 2013


Justificacao do Curriculo no Ensino Basico Mocambicano
 
 
 
Índice                                                                                                                           Pag.
                                                                                                                                
I.                   Introdução………………………………………….…………….1
1.      Objectivos…………………………………………………….………….2
1.1.Geral………………………………………………………………………2
1.2.Específico……………………………………………………………....…2
1.3.Problema…………………………………………………………………….2
1.4.Hipótese……………………………………………………………………..2
1.5.Metodologias do Trabalho…………………………………………………..3
II.                Quadro Teórico……………………………………………………………...3
III.             Justificação do Currículo……………………………………………………5
IV.             Análise da Sociedade……………………………………………………….8
V.                Pluralidade das Orientações Curriculares………………………………...9
VI.             Considerações Finais…………………………………………………….11
VII.          Referências Bibliográficas…………………………………………….12
 
 
 
 

 

 

 
 
 
 
 

I. INTRODUÇÃO

 
A justificação do currículo é um dos grandes temas sobre o qual as Teorias do currículo procuram elementos explicativos. O currículo é trazido para a educação e este representa um veículo privilegiado de transmissão de valores considerados comuns a uma dada sociedade, tanto morais, como ideológicos e culturais, estando intimamente ligada ao regime de estratificação social.
 
O presente trabalho cujo tema é Justificação do Currículo do Ensino Básico, consistirá na análise de um dos fundamentos que é a “análise da sociedade”, pois é na sociedade onde são passadas as aprendizagens de interesse comum que deram origem a uma instituição vocacionada na transmissão de conhecimentos (escola).  
 
Sendo assim, de acordo com Silva (2003:16) a perspectiva pós-estruturalista diz que o currículo é também uma questão do poder”. Acrescenta ainda que “as teorias pós-críticas envolvem a identidade, alteridade, diferenças, subjectividade, significação e discurso, saber-poder, representação, cultura, género, raça, etnia, sexualidade e multiculturalismo”. Associando o exposto acima descrito, elas enquadram-se na teoria pós-crítica de Silva, uma que vez esta teoria privilegia diversas facetas de cultura, de desenvolvimentos sociais, que será o nosso centro de atenção ao fazer a “análise da sociedade” na justificação do currículo do ensino básico.
 
Ao se falar da justificação do currículo nesta área do saber (Teorias do Currículo), pretende-se “clarificar o contexto e a justificação de planos curriculares ou programas de ensino e as finalidades educativas a prosseguir” (Ribeiro, 1999: 45).
   
 
 
 
 
 
1.Objectivos
De acordo com Piletti[1] (2002: 65), os objectivos são “ponto de partida, as premissas gerais do processo pedagógico”. Desta forma, estabelecer objectivos é uma condição para alcançarmos aquilo que se almeja. Eles servem como uma bússula orientadora dos nossos passos e caminhos para chegar onde se pretende. Os objectivos desdobram-se em:
 
1.1.Objectivo Geral:
  • Justificar a implementação do Currículo do Ensino Básico
 
1.2. Objectivos Específicos
  • Analisar o plano curricular do ensino básico.
·         Discutir a pluralidade de orientações curriculares (justificação sociocultural, psicopedagógica e epistemologico-disciplinar) no contexto moçambicano.
 
1.3. Problema
Em que medida os planos curriculares ou programas de ensino e as finalidades educativas a prosseguir, não são devidamente implementados na prática.
 

1.4. Hipóteses

Ø  Ausência dos implementadores (professores) do currículo na elaboração do mesmo;
Ø  Falta de clarificação na justificação de planos curriculares ou programas de ensino e as finalidades educativas a prosseguir;
Ø  Não se observar o fundamento “análise da sociedade”, tendo em conta que é nela que as aprendizagens são passadas.
 
1.5. Metodologia do trabalho
 
Em termos metodológicos, importa referir que neste trabalho por um lado, conjugar-se-á a revisão de literatura que consistirá na apresentação dos pontos de vista de diversos autores que enveredam nesta área (Teorias Curriculares) e, por outro lado, trata-se de um ensaio analítico e crítico concernente à reflexão do currículo do ensino básico moçambicano.
 
  
Na subsecção que se segue vamos apresentar a revisão da literatura e, nela discutir-se-ão os pontos de vista de alguns autores que tratam do assunto.
 
 
II. Quadro Teórico
 
De acordo com Ribeiro (1999: 18), “ o currículo pode definir-se como um conjunto de experiências educativas planeadas e organizadas pela escola, ou mesmo, de experiências vividas pelos educandos sob a orientação directa da escola”.
 
Na perspectiva Tanner e Tanner (1975:45) apud Ribeiro (1999), “o currículo consiste na reconstrução de conhecimentos e experiências sistematicamente desenvolvidas sob a orientação da escola no sentido de habilitar o aluno a desenvolver o seu domínio de conhecimentos e experiências”.
 
Na senda de Zalbalza (1992) apud Ribeiro (1999), o currículo pode definir-se como o conjunto de pressuposto de partida, das metas que se deseja alcançar e dos passos que se dão para as alcançar. Este autor vai mais além ao referir que o currículo é também considerado como o conjunto de conhecimentos, perícias, atitudes que são considerados importantes para serem trabalhados na escola ano após ano.
 
Pacheco (1996) afirma que, o currículo é “uma construção que deve ser estudada na relação com as condições históricas e sociais em que se produzem as suas diversas realizações concretas e na ordenação particular do seu discurso, e também na relação com o contexto de implementação, geralmente a escola ou a instituição de formação”.
 
No que diz respeito a sociedade, DEMO (2002), refere que Uma sociedade humana é um coletivo de cidadãos de um país, sujeitos à mesma autoridade política, às mesmas leis e normas de conduta, organizados socialmente e governados por entidades que zelam pelo bem-estar desse grupo. Os membros de uma sociedade podem ser de diferentes grupos étnicos. Também podem pertencer a diferentes níveis ou classes sociais. O que caracteriza a sociedade é a partilha de interesses entre os membros e as preocupação mútuas direcionadas a um objetivo comum.
 
O Plano Curricular do Ensino Básico, é um documento que constitui o pilar do curriculo do ensino básico em Moçambique, apresentando as linhas gerais que sustentam o novo currículo, assim como as perspectivas do ensino básico país. INDE/MINED-Moçambique (2003)
 
A partir dos conceitos apresentados dos diferentes autores, consideramos de currículo o conjunto de aprendizagens de interesse da sociedade transmitidas pela escola. Pois, faz o enquadramento entre a sociedade e a instituição de formação e o contexto de sua implementação.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 

III. Justificação do Currículo do Ensino Básico Mocambicano

 

 

 
De acordo com Ribeiro (1999), a justificação do currículo apresenta dois enunciados a saber:
 
1.       Enunciado justificativo do programa de ensino – visa responder as razões da sua apresentação porquê e como se legitimam as aprendizagens sugeridas ao sujeito.
O enunciado apresentado por Ribeiro (1999), justificativo do programa do ensino, em que respondem as questões como porquê e como são legitimadas as aprendizagens sugeridas ao sujeito, o PCEB, no que diz respeito aos conteúdos, está estruturado de forma a garantir o desenvolvimento integrado das habilidades, conhecimentos e valores. Quanto ao enunciado justificativo do programa do ensino que questiona como serão legitimadas, o PCEB apresenta três áreas curriculares para justificar a materialização do programa de ensino, nomeadamente: Comunicação e Ciências Sociais, Matemática e ciências Naturais e Actividades Práticas e Tecnológicas.
 
2.       Enunciado sobre o contexto e fundamentos do currículo – visa guiar o plano de todas as componentes curriculares e programáticas em conformidades com valores, pressupostos e finalidades a ele adjacente. Neste caso, o PCEB nas suas três áreas curriculares que justificam a materialização do programa de ensino, vai se guiar da seguinte forma:
·         Comunicação e Ciências Sociais: Línguas (Portuguesa, Moçambicanas  e Inglesa, que constituem um instrumento de comunicação, de acesso à ciência e de intercâmbio sócio cultural e assegurar a valorização dos conhecimento e cultura que essas línguas trazem; Educação Musical, cultivar o desenvolvimento da personalidade nos domínios afectivos, estéticos, cultural, afectivo e psicomotor; Ciências Sociais, constituídas por disciplinas como: História, Geografia e Educação Moral e Cívica, que procuram desenvolver habilidades e competências básicas compreender o processo histórico, conhecer e localizar os espaços físicos-geográficos, conhecer seus direitos e deveres,
·         Matemática e Ciências Naturais: constituída por Matemática, e Ciências Naturais, englobando as disciplinas de Biologia, Física e Química, em que se desenvolvem competências como interpretação científica dos seres e fenómenos naturais.
·         Actividades Práticas e Tecnológicas: constituída por Ofícios, Educação visual e Educação Física que vão desenvolver competências como escultura, artesanato, culinária, agro-pecuària, assim como observar, descobrir através das imagens e desenvolver habilidades e competências psicomotoras de base, provendo actividade física e desporto.
 
Contudo, a justificação do currículo (macro e micro curriculares) faz referência a um conjunto de pressupostos (sociedade, sujeito e conteúdo) que orientam e justificam o conjunto de objectivos de ensino-aprendizagem.
 
O pressuposto sociocultural advém da análise da sociedade, pois, promove valores culturais e sociais e forma a alcançar as metas pretendidas. Segundo o PCEB, a questão da língua é o factor que mais influência no PEA, sobretudo nas classes iniciais, os ritos de iniciação que traduzem uma realidade “sistemas de educação tradicional”  com objectivos de transmitir normas e valores de uma sociedade; muitas práticas sócio económicas e a divisão social na comunidade que constituem aprendizagem familiar.
 
Os pressupostos psicopedagógicos demonstram as características reais e desejáveis do educando e faz uma análise do sujeito e do processo de ensino.
 
Pressupostos epistemológicos disciplinares realizam a análise do universo de conhecimentos e cultura disponível em que se aceita a natureza e o valor formativo. No PCEB, a estrutura e o conteúdo do currículo desenvolvidos no princípio da década de 80 tem se mostrado cada vez mais inadequado para uma economia em rápida mudança e para exigências sociais. A manutenção do currículo do EP2 com sete professores para cada turma, organizado na óptica das disciplinas e obedecendo a uma avaliação selectiva está longe das possibilidades do Ministério da Educação, pois, o objectivo deste, é construir um currículo que proporcione aos cidadãos moçambicanos os conhecimentos e habilidades de que lhes necessitam para obterem meios de sobrevivências sustentáveis, acelerar o desenvolvimento da economia e reduzir o índices de pobreza.
 
Neste contexto, distinguem-se duas vertentes a saber:
 
1.      Análise teórica e concepções gerais que consistem em apresentar o nível geral de princípios ou orientação de ensino;
2.      Descrição de características, situações e contextos específicos.
 
O cruzamento das duas vertentes é imprescindível, uma vez que o desenvolvimento curricular e programas de ensino se orientam através de exigências vindas de orientações educativas e necessidades de contexto real.
 
Os três fundamentos (sociedade, sujeito e conteúdo) têm um equilíbrio dependente do sistema de valores educacionais e de opções político-educativo, tanto na análise de pressupostos como na relação entre os diferentes justificativos. Desta forma, o principal problema do currículo é decidir o que se deve ensinar nas escolas (Beauchamp, 1975) apud Ribeiro (1999).
 
Um currículo representa uma afirmação implícita de valores ao seleccionar objectivos, conteúdos culturais, experiências educativas valiosas a serem sugeridas e valores.
 
Os três fundamentos são tratados como esferas de influência separadas e antagónicos porque cada componente tem razão de ser, pois, os modelos de organização curricular privilegiam um fundamento, quer por insuficiência de clarificação, quer por ausência de justificação adequada. Portanto, embora haja, antagonismo entre os fundamentos existe também uma interdependência.

IV. Análise da Sociedade

 
A análise da sociedade compreende factores politico-institucionais, culturais e económicos, uma vez que o currículo escolar aparece como um meio de inserção de crianças e jovens na comunidade como forma de socialização cultural comum. Como nos referimos anteriormente, conceito de sociedade pressupõe uma convivência e atividade conjunta do homem, ordenada ou organizada conscientemente.
 
O currículo insere-se num contexto social e não se processa no vazio, pois, o meio social exerce a sua influência no currículo no sentido de resistir à mudança (valorizando a tradição) ou de a acelerar (a par das transformações sociocultural) e por meio de controlo do sistema educativo.
De acordo com Ribeiro (op.cit), os aspectos ou perspectivas na análise dos fundamentos podem-se resumir da seguinte maneira:
Ø  Tradição histórica e cultural do sistema educativo;
Ø  Funções sociais da escola (transmitir, orientar e seleccionar papeis sociais e funcionais);
Ø  Contexto social económico e político;
Ø  Factores de controlo e influência da sociedade sobre o currículo.
 
No contexto moçambicano, o currículo devia observar os aspectos sociais, políticos, culturais e económicos uma vez que não se processa no vazio, pois, o meio social exerce a sua influência, neste sentido, a observância da participação dos autores sociais que fazem existir a escola no processo de construção do currículo seria de extrema importância.
 
Contrariamente ao referido no parágrafo anterior, os implementadores dos programas curriculares (professores) não participam na elaboração dos mesmos. Dai, o fracasso nos resultados de ensino-aprendizagem uma vez que o professor não está preparado suficientemente para implementar os programas desenhados devido a falta de informação sobre os programas curriculares.
 
Para o currículo sobreviver na sociedade deve proporcionar atitudes, aptidões e conhecimentos necessários e compatíveis com a sociedade em que se insere.
 
Assim sendo, a legitimação social do currículo e programas dão exemplos, mas não explicam os critérios de selecção sobre aspectos concretos a incluir ou excluir na totalidade para promover a transformação da sociedade.
 

V. Pluralidade das Orientações Curriculares           

 
A compreensão deste subcapítulo baseia-se em três ordens de fundamentação curricular correspondentes a outras orientações maiores de currículo e programas, remetendo-nos ao terceiro capitulo do presente ensaio que trata dos pressupostos do currículo a saber:
 
a) Justificação sociocultural – orienta a educação escolar transmitindo culturalmente valores, socialização e preparar a vida social.
 
A selecção e organização de objectivos e conteúdos são diferentes dentro da mesma orientação social.
 
b) A justificação psicopedagógica – a educação escolar aponta o desenvolvimento progressivo do sujeito no processo de ensino-aprendizagem em ambiente adequado.
 
c) Justificação epistemológica – baseia-se nos conteúdos das disciplinas e entende-se como um processo de transmissão da cultura acumulada cuja finalidade é encaminhar os alunos nas áreas de aquisição culturais, científicas e tecnológicas e na formação intelectual do homem “culto”.
 
Segundo Ribeiro (1999), a selecção e organização de objectivos e conteúdos curriculares são justificadas em função das disciplinas escolhidas como “valiosas” e de estrutura de cada uma delas.
 
A orientação epistemológica-disciplinar está centrada no sujeito da aprendizagem (Ribeiro, 1999), o que é apelidado por orientação centrada no desenvolvimento de processos cognitivos por Eisner e Wallance (1974) e Eisner (1985).
 
 

 

 
 
 
 

 

 

 
 
 
 

 

 
 
 
 
 
 
 

VI. Considerações Finais

 
Feito a reflexão sobre a Justificação do Currículo no Ensino Básico, baseado no Plano Curricular do Ensino Básico, percebemos que a justificação do currículo apresenta dois enunciados nomeadamente: o enunciado justificativo do programa de ensino e o enunciado sobre o contexto e fundamentos do currículo.
 
Cabe-nos ainda referir que o desenvolvimento curricular e programas de ensino se orientam através de exigências educativas e necessidades de contexto real. Sendo o currículo o conjunto de aprendizagens de interesse da sociedade transmitidas pela escola pelo facto de fazer o enquadramento entre a sociedade e a instituição de formação e o contexto de sua implementação, dai que não se processa no vazio, está dependente da sociedade, assim deve-se evidenciar as reais necessidades dessa sociedade para aprendizagem.
 
A análise da sociedade compreende factores politico-institucionais, culturais e económicos porque exerce a sua influência no currículo.
 
Portanto, em Moçambique o currículo devia observar os aspectos sociais, políticos, culturais e económicos e incluir os implementadores no âmbito da elaboração dos programas curriculares.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

VII. Referências Bibliográficas

 
DEMO, Pedro. Introdução à Sociologia. São Paulo. Atlas.2002
INDE/MINED-Moçambique (2003). Plano Curricular do Ensino Básico: Objectivos, Políticas, Planos de Estudo e Estratégias de Implementacao
PACHECO, José Augusto. Curriculo: teirias e práxis.2ª ed., Porto: Porto Editora, 2001
PILETTI, Claudino,.Didáctica Geral, editora Ática, 23ª edição, São Paulo 2002.
RIBEIRO, A. C. Desenvolvimento curricular. Lisboa: Texto Editora. 1999
SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de Identidade: Uma introdução as Teorias do Currículo. 2ª Ed. Autentica. Belo Horizonte.2003


[1] Piletti, Claudino, Didáctica Geral p. 65
 

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